prego na parede
ao pregar o prego na parede
João plantou corpo, corpo morto no chão
mas quem foi João, pergunta o mestre,
o mestre ao capelão?
e as horas passam como as cinzas voam,
voam as cinzas de João
mas o prego continuou na parede, imóvel
tal qual pergunta, pergunta do mestre ao capelão
um dia, daquele prego, Maria fez moldura,
inquilina na imagem, era formosura em rendas e tenra idade
sob o quadro, louças finas em fina cristaleira
obra feita dos antigos, agora de moça, moça e rendeira
Maria rendou cidades e rendou lençóis e castidade, por homens de cabeceira
mas os anos passam, e gastam como a saudade,
a saudade da cristaleira, da moça fina e louças de solteira
naquele quarto, (da parede e do prego de João)
vieram os filhos, dos filhos, os netos, os netos da mulher de prateleira
e o tempo passa, o tempo passa como no tempo de João
hoje vagam naquela casa, velha casa, em meio aos pregos sem molduras, a mulher velha e um olhar na solidão
pois foi certeza da idade, da lembrança da imagem, formosura em renda de tenra idade, que a mulher velha tornou-se inquilina da saudade e era filha, a menina do João