COISAS VELHAS
Os primeiros poemas são meus
Os outros, são de todo mundo
Todos foram falando versos
Improvisados
Nas noites de chuva fina
Quando o céu parece ia descendo
Cada vez mais até bater em nossas cabeças
Bonita é a cor que ele tinha
É uma cor de lâmpadas incandescentes
Que vem das cidades longes
Lembra os olhos aflitos
De quem procura o filho perdido
No meio da multidão de rostos
E passos nas praças
Festivas de hoje
Esse rosto no espelho parece com a gente
Quando éramos apenas nós
Agora que somos muitos
A nossa cara reflete
Uma multidão
E a nossa alma tá bagunçada
Não reconhecemos ninguém
Porque essas diferenças que nascem na alma
São como navios piratas em alto mar
Carregando tesouros
Que ninguém sabe de onde vêm
Os poemas dos outros são bem melhores
Que os meus
Mas, infelizmente
Eu já não os ouço e a poesia vai
Morrendo com esse gosto de coisas velhas
Esquecidas em quartos de antigos donos
Já sem dono algum.