Mistérios d'alma

Fiz meu ninho

Às margens de suas águas

Doce encanto na invernada.

Sou seu canto passaredo

Pássaro pranto de medo

Eu sou o seu curió.

Sou pingo d'água

No vinco da folha orvalhada

Que deságua mistérios d'alma

Oxum das cachoeiras

Eu rolo pelo rosto

Eu mostro o meu corpo inteiro.

Córrego do tempo, efemeridade

A fórmula freática da vida,

Tempo etério

Dorso terno do amor...

No redemoinho do córrego

Sou enxurrada e vento

Colar de desejos, calor ensejado.

Sou o doce do doce do agrião

Deixa não, eu sozinho

Vem aqui, em minha mão.

A água que mergulho sem medo

Tem o seu perfume

O que me funde a alma e voa

Curió lá da lagoa

Sou folha, água, risco,

ouro, pessoa, seu filho

Minha doce rainha boa.

Marcus Vinicius