Que horas são?
Não me lembro
Eu não sei, vagueio,
Depois do beijo em você,
Em deleite ascendido, mistério gozoso,
Finjo-me absorto no tempo.
Nem sombra
nem água fresca,
as horas da aurora clareiam,
Eu me perco no tempo.
Um raio-luz me acusa,
outro raio tira-me a culpa
e a clara-idade na água
da pia veleja-me aqui.
Que horas são?
A sinfonia boreal diz:
Água fresca, você.
Uma enorme vontade de lavar as mãos.
Já se faz tarde,
Já se já faz sombra
antes mesmo de te benzer.
E as horas são...
Não me diga: é tarde?
Em silêncio escute
apenas o barulho dos acordes quentes dessa canção
que eu fiz enquanto você crescia.
Não queria saber de mim
o que nem eu sei de você.
Sou grato,
se a gente pensar assim.
Hoje o dia é quente,
amanhã, deixa vir.
Agora, de noite,
a tinta da minha matéria muda
conforme as estações.
Agora sou cor de desperdício,
mais tarde, aflição.
No meio da tarde sou febril,
noutros, aproximação.
Sai de mim vibrante essa
tinta de grafitar o mundo,
porque nada é tão sólido,
à noite, poderei sentir solidão.
Depois, só sombra!
Depois, água fresca!
Em minha cabeça, aurora
E ainda nem sei:
Que horas são?
Que horas são?
Marcus Vinicius