"A LOJA, A LADEIRA... O SENTIDO DA VIDA"

Um rapaz de cabelos negros,

lisos e ralos... com voz arrastada

e olhar entediado,

entrou em minha loja

e eu falei qualquer coisa com ele,

e ele resolveu me ignorar

... como se eu não

fosse uma pessoa.

Me sentei com dois amigos,

Estava chateado... e contei a história

... cada um deles me deu sua

versão do que seria

uma retaliação,

caso o rapaz retornasse.

Mas, eles não me entenderam

eu só queria comentar

eu não quero conflito... eu odeio conflito.

Depois eu desci uma rua

cheia de gente, e sujeira,

irritação e contemplação

Do nada.

Tudo se misturando com

Uma música que apenas

alguns, prestavam a devida atenção.

Na padaria, a fila...

Um homem velho chegou,

e seu rosto me lembrou

O de um cachorro atropelado

... insistindo em respirar.

Mas eu nunca vi na vida,

um cachorro atropelado

insistir em respirar...

Ele pediu, com voz baixinha

que a moça em minha frente

lhe comprasse um pão.

O padeiro escutou a conversa

E lhe trouxe um pão e ele perguntou:

"ela pagou pelo pão?"

E o homem respondeu

que ela não precisava pagar

porque ele mesmo

Estava lhe dando o pão

E o sujeito repetiu inconformado:

"mas, ela PAGOU o pão?"

E se recusava a aceitar

a comida, até que a moça mentiu,

dizendo que tinha pagado o pão,

E então o homem aceitou

a comida, e eu fui embora

antes de vê-lo comer.

Eu voltei,

subindo a ladeira com pressa

havia um homem na escada

... em frente à loja, e eu o conhecia

quero dizer... apenas sabia

quem era ele.

Eu o cumprimentei e entrei

Sorrindo, dizendo:

"pode ficar aí, sem problemas!"

.... mas na verdade eu estava

desde cedo, pensando na apatia

das pessoas, e na maldade dos homens

... ou até mesmo, na falta de

bondade das pessoas.

[que não é exatamente maldade...]

E as todo mundo segue

Rindo e sorrindo, eu não entendo...

Porque elas não parecem se importar

Não parecem ver o que eu vejo.

Eu penso em chorar,

ou pelo menos penso, em me isolar

em algum canto... e ser esquecido

... e escrever poesias enormes,

como essa.

... versos repetitivos,

de um homem puto.

... um poeta exausto.