INFLEXÃO DA SAUDADE
Já te vais tão longe de minha memória
Que envelhece sem ao menos ter-lhe dado minha permissão
E agora tudo que me resta levastes contigo em vã comiseração
Nossas contendas, nossas histórias escamadas de escórias
Estou me acostumando lentamente ao fechar das luzes
Já palidamente vejo sombras na relva e tênue escuridão...
O esquecimento é um perfume barato
Que me faz reconhecer palidamente quem é este que se olha no espelho
Carcomido pelo tempo amarelado no porta retrato
O perdão das palavras não dadas tinge o meu céu azul de vermelho
Somos devaneios em círculos
Como fumaças que o tempo molda no ar e dissipa
Palhaços no picadeiro da ilusão e dos vícios
No lugar deste breviário que é o coração deveria existir a tripa
Somos essas peças de uma engrenagem
Como as penas que ficam soltas ao vento quando voam os pardais
Vestígios que vão ficando para trás, ossos nas catedrais, visagens...
Roupas reprimidas que choram estendidas nos varais...