alma de gato
no meu peito mora um pássaro
não de gaiola, mas de cidade
salta esperto entre os passantes da calçada
e rouba as migalhas de alegria
perdidas na crueza
destes dias
um pássaro livre, arisco
em vez de inimigo, um pouco do gato
queda quieto enquanto vigio
povoa meus sonhos quando distraio
desata os nós invisíveis
e vive os desejos não ousados
no meu peito mora um pássaro
que espreita, e aprende, enquanto erro
nos descaminhos da terra
vai apurando seu vôo, afinando seu canto
e não me deixa saber
Publicado no livro "cio do século" (2011).