A Venda
Aos dez anos iniciaram-me no trabalho
Encerrava precocemente minha infância
Assumi responsabilidades ainda pirralho
O trabalho infantil não tinha relevância
Tão de repente relava queixo no balcão
Ao colocar-me à disposição do freguês
Para vender-lhe de uma agulha a avião
De boa vontade de forma muito cortês
Bem variadas eram as minhas funções
De faxineiro a repositor de mercadoria
Café, doces, lanches e outras refeições
Mercearia, bar, lanchonete e sorveteria
Arroz, o feijão e outos cereais a granel
Pólvora, chumbo, balas doce e amarga
Celofane, ofício e outros tipos de papel
Caderno, lápis, caneta e a sua recarga
Fumo de rolo, rapadura, pé e toucinho
Queijo, pão, picolé, linguiça, mortadela
Pimenta do reino, canela pó e cominho
Fio, linha, corda, prego e até manivela
Fivelas, cintos, fechecler, botões, ilhós
Ferradura, fechadura, lona para tenda
Não existia quem vendesse como nós
Porque de tudo tinha em nossa venda.