Acalanto de poeta fraco
“NA ALMA NÃO TENHO UM SÓ CABELO BRANCO”
* frase de MAIAKÓVSKI.
Preciso de uma bala,
Maiakóvski, empresta teu revolver!
O poeta remide no tempo!
E hoje preciso enterrar o homem.
Homem horrível,
Poeta...
Miserável; onde pairar teu nojo!
Vomitas versos e não se faz homem,
Corcunda está tua alma, morno,
Permanece poeta.
Aleijados sóis, homem!
Vens bêbado,
As velas que carrega teus sonhos,
Pano das mortalhas de teus dias,
Mornos dias,
Mesmos dias,
Aleijado sóis, homem!
Tua filha não te toca...
Tua mulher não te toca...
Teu pai tá longe,
Tua mãe dorme,
E falas em família!
Preciso de uma bala,
Maiakóvski, empresta teu revolver,
O poeta remide no tempo!
E hoje preciso enterrar o homem.
Na sala as coisas,
Livros, fotos, lembranças!
No espelho, o rosto, sem face...
Já existiu uma criança neste mesmo espelho,
E tinha donzela na torre, e carrega a espada em minhas mãos!
Morno o homem planta os dias,
Deu-se poeta!
Morno lhe vem a casa, a família o amigo,
E ele não queima,
Não arde,
Não acende...
Morno o poeta planta os dias,
Negou-se o homem,
Mornos lhe vêm às palavras, à noite a bebida,
E não é frio seu peito,
E não é manso,
Não dorme...
Morno o homem condena o poeta...
Maiakóvski! Limpai teu revolver,
Hoje a pólvora queimará!