Hiato
Entre a desobediência/
E a moral/
Sou um imperfeito hipócrita/
Porque não sei da razão/
Daquilo que me tornei/
Descendente de cavaleiro, um perfeito mau caráter/
Verdade ou mentira/
Homem ou versão/
Nessa vida/
Um espelho/
Da indefinição/
Amor/
Eu sempre te sonhei/
Sempre quis ser normal/
Procurei em cada uma das mulheres que me apaixonei/
Levado pela emoção/
Como muitos, confiei que tudo se resolveria com o Natal/
Acreditando assinei como sobrenome, caos/
Feito criança perdida/
Ignorei a ignorância/
Pra ser de você/
Apenas eu/
Dissipada fantasia/
Percebi, que o ridículo me acompanha/
Quando os escândalos me esvisceram/
E o pecado/
De latente é mortal/
Adormeço envolto num abismo fatal/
Pra ser essa pessoa devassa/
Que eu mesmo, as vezes desconheço/
Feri e matei tantas pessoas/
Transformei e as viciei/
Em mim/
Que elas, pouco me enxergam como criatura/
Juro/
Procurei o amor/
Que nem sei o valor/
Voei tão alto/
Que do ar ao chão, me despedacei/
Ainda rolando nos abusos e nos meus erros/
Na minha inconsistência humana/
Que a cada dia degusto como a minha própria dor/
Embora nunca chore/
Vivo a perguntar ao sofrimento quem é letal/
A solidão ou a condição/
E antes que me esqueça, sinto profundamente ter amputado os meus membros/
Joguei-os ao abandono/
Tirei deles/
Não mais que o coração e a voz/
Teria sido melhor abortá-los desse mundo/
Do que fazê-los numa eternidade de horas… infelizes/
Nunca fui mais do que ausente/
Fiz pelo mundo/
O que nunca se viu/
Sou anônimo civil/
Quase sem forças/
Entre uma madruga e outra/
Alfabetizo-me incansavelmente na incompreensão/
São madrugadas acesas/
Sem aprender a lição/
Ainda procuro o amor no exterior do corpo/
Na vida fico com a interrogação/
Procuro o amor além da paixão/
Sou o interprete dessa velha visão/
Quem quiser me conhecer ainda/
Por favor, pra não se machucar/
Pra não morrer/
Nem perder a sua identidade/
Diga não/