Nave, natividade
Eu estava na rede
De papo para o ar
E bem lá em cima
De onde vem o luar
Passava o avião
Roncava o danado
Como um beberrão
Amolava os anjos
Surtava os banjos
Que se faziam calar
Como zinha prenhe
Não há quem desdenhe
Cem crias no ventre
Carregava parentes
Que iam viajar
Só ele, solitário
Encheria um berçário
Quando fosse pousar
Lá em cima altivo
Ocupava o espaço
Do urubu, do céu nativo
Agora sem céu para singrar
A cegonha de aço
Do lápis, apenas um traço
De voar já tão farto
Buscava no chão um porto
Para despejar o seu parto