Anjo

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O tempo encurva-se sobre mim

Reflexo do que sou e do que fui:

Complexo anjo delirante

De asas rotas

De aura amarfanhada.

Anjo de outras eras

Em desalinho

E de solitária busca pelo sonho.

 

O tempo toca o sonho represado

Inconsciente dos limites

Do seu corpo

E do silêncio

Que apascenta as noites toscas

Nas fartas águas de tantas lembranças.

 

Calo-me nas curvas desse tempo

Sorvo nele o néctar da saudade

Calo-me afásica e me solto sem ritmo

Sorvo o travo de tantas palavras...

(Palavras que não guardo).

 

Estendo então as asas, em protesto

Anjo torto, exangue.

Em tempo azul.