Escultura de palavras

Procurei, na arte, vislumbrar o meu retrato.

Achei, na música, o cantor materializando notas,

o instrumentista sonorizando a matéria-prima

e o expectador tocando palmas no fim da peça.

No desenho, o olhar correu à busca de formas...

No traçado, estava a mão a massagear as retinas,

Nas curvas, a expressão concreta da sensibilidade

e no todo, a perfeita linguagem que brota na alma.

O movimento do pincel colorindo o cérebro, na pintura.

O bailado das mãos passeando na tela, na criação da obra

e o artista explodindo inteiro, no próprio conjunto.

Dando vida ao texto, no palco, estava o ator,

ferindo mortalmente em cada frase, cada passo e cada gesto.

Chorando, atrás da cortina, o autor da trama,

na visão de quem põe no script, seus pedaços.

Largados no chão, o papel, a caneta, o poeta.

A mensagem, a palavra, o sofrer e o profeta.

Trazendo aos olhos do mundo, a face oculta do homem.

Casando alegria e tristeza, passeando dentro e fora do texto.

Do livro “Entre outras mil” - 1993

fiore carlos
Enviado por fiore carlos em 15/09/2007
Reeditado em 15/09/2007
Código do texto: T653361
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