Escultura de palavras
Procurei, na arte, vislumbrar o meu retrato.
Achei, na música, o cantor materializando notas,
o instrumentista sonorizando a matéria-prima
e o expectador tocando palmas no fim da peça.
No desenho, o olhar correu à busca de formas...
No traçado, estava a mão a massagear as retinas,
Nas curvas, a expressão concreta da sensibilidade
e no todo, a perfeita linguagem que brota na alma.
O movimento do pincel colorindo o cérebro, na pintura.
O bailado das mãos passeando na tela, na criação da obra
e o artista explodindo inteiro, no próprio conjunto.
Dando vida ao texto, no palco, estava o ator,
ferindo mortalmente em cada frase, cada passo e cada gesto.
Chorando, atrás da cortina, o autor da trama,
na visão de quem põe no script, seus pedaços.
Largados no chão, o papel, a caneta, o poeta.
A mensagem, a palavra, o sofrer e o profeta.
Trazendo aos olhos do mundo, a face oculta do homem.
Casando alegria e tristeza, passeando dentro e fora do texto.
Do livro “Entre outras mil” - 1993