Meu silêncio não significa nada
Meu silêncio não significa nada, nem mesmo
Minhas palavras significam... tudo o que eu
Digo e o que eu calo, são pretensões apenas,
Restos de poemas e frases soltas no vazio de
Um templo, de um tempo que findou...
A amargura da vida, sem pormenores, com dissabores,
Falta de jeito e algum sentido. Paro sob marquises
De prédios imensos, tentando entender cada
Movimento do corpo, todo sentimento que
Aflora pelos cantos do quarto, entre alguns
Livros não muito amados, meus e de outros
Poetas, ou quase.
A hora, quando se deseja
Contá-la em segundos, demora mais do que
Um ano, mais do que uma vida, mais até do
Que um beijo entre namorados. Demora como
Uma dor, um frio, a falta de alguma coisa muito
Importante e insubstituível...
Já ouvi diversas vezes que um sonho
Não deve ser subestimado, que um sorriso
Não pode ser insincero, que as melhores razões
Da vida são aquelas mais simples, como
O sabor de uma comida feita com amor, o gosto
Da água para quem tem sede, uma cama quente
E um coração livre do mal...
Agora o que vejo não faz sentido,
O que quero não me é possível.
O amor é um embuste para corações fracos,
A solidão me acompanha e eu não temo
O medo ou o fracasso, temo ter que me proteger
De uma arma numa esquina, de um beijo avassalador
Entre lençóis indignos...
Temo não saber como terminar esse poema,
Não conseguir escrever aquele romance
Que há tempos me procura e eu nunca
Comecei; temo, não sei, continuar infinitamente
Com o mesmo sonho, com a mesma
Sombra, a mesma vida...