Para passear no coração do poeta, não importa a cor da epiderme. Basta ser mulher. É preciso, no entanto, luz nos olhos e serenidade na face. Desejável certa leveza no andar, que lembre a graça insinuante de uma gata.
 
Paixões em branco e preto
 
Era linda demais a moça
loiríssima que eu vi agora.
Sem medo de errar ou de engano,
eu juro por Nossa Senhora
que daria tudo que tenho
pelos meus vinte e poucos anos.

Ai, moça loira, quando a verei outra vez?
Quando seus olhos pousarão de novo nos meus?
Moça loira, um minuto de espera é um mês,
cada hora de ausência tem sabor de um adeus.

Moça que dá cor à jabuticaba,
proibiram associá-la ao matiz,
achando que assim o racismo acaba.
Inventaram uma regra infeliz,
e nasceu então a afrodescendente.
Mas foi a negra que eu vi na cidade
que me restituiu à flor da idade
e fez o meu coração mais contente.


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N. do A. – Na ilustração, Retrato de Mulher Negra de Marie Guillemine Benoist (França, 1768-1826) e Mulher com Rosa Amarela de Emilie Vernon (França, 1872-1920).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 19/12/2018
Reeditado em 09/04/2021
Código do texto: T6530617
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