MAMA MINHA
Hoje,
Senti saudades de mim.
Olhei-me no espelho
E confirmei a assimetria de minhas mamas.
Lembrei-me de um tempo
Em que minhas mamas
Recebiam carícias
E me excitavam.
Lembrei-me de um outro tempo,
Em que minhas mamas
Amamentavam
E me deixava prazerosa
E orgulhosa de mim.
Afinal,
Eu era o arco que nutria minhas flexas,
Meus filhos,
Os filhos que amamentei.
Hoje,
Senti pena de mim.
Descobriram nódulos mamários
Em uma delas.
Daí,
A assimetria,
A não conformidade.
Com lágrimas nos olhos,
Pergunto-me:
O que fazer?
É cedo ou tarde para dizer adeus?
Contento-me com uma resposta íntima:
Pode ser tarde para mim,
Mas cedo, talvez,
Para minha filha.
Conforto-me.
O auto-exame que tarde aprendi,
Talvez sirva cedo para minha filha.
Quem sabe, no futuro,
Ela possa contemplar suas mamas,
Com os olhos de quem aprendeu cedo,
Com os olhos da prevenção.
Eis agora,
Um bom motivo
Para substituir as lágrimas,
Por um sorriso de satisfação,
Pelo dever cumprido.
Se minha mama,
Eu não puder preservar,
Conforto-me,
Pela certeza de poder contribuir
Com a preservação das mamas
De outras mulheres.
Para que elas nunca sintam saudades,
Nem pena delas mesmas
E jamais tenham que dizer adeus,
A um dos mais lindos e sublimes
Referenciais do corpo feminino.
Seja cedo ou seja tarde.
Procuro aqui, traduzir a preocupação da Fundação Maria de Carvalho Santos (www.fontedasolidariedade.com.br), da qual sou colaborador, com a prevenção do câncer de mama
Rui Azevedo 15.09.2007