Pra minha mãe Rosa
De repente a dona do útero que me gerou está velha,
pra valer.
Do alto dos seus 86 anos, a velhice há muito lhe abraçou.
Foi perdendo, pouco a pouco, seus gostos de vida.
A cabeça fazendo fuzuê nas ideias,
sentimentos maternos tão fortes foram caindo um a um,
feito peças de dominó.
Como filho, essa cena deixou de ser doída,
passei a entender que seu tempo estava se esvaindo.
Estava, pouco a pouco, indo embora.
A pele se enrugando, as vontades rareando,
a morte vindo de longe pra se aconchegar.
Conversas bárbaras trocadas, agora viraram silêncio
de tumba, viraram uma frustrada interação.
Tenho me esforçado pra vê-la sempre que posso,
encontros sem sal, sem gratidão, sem sorriso.
Quando me despeço, dou um beijo na sua testa
e acho que ela nem se dá conta disso.
Isso já não me faz ficar triste,
o que é uma grande pena.
Mãe, obrigado por tudo.
Siga seu caminho. Vá com Deus,
do jeito que for melhor pra você.
Te amo.
Do seu filho, Oscar.
Escrito em 16/12/18.
Dedicada à minha mãe, Rosalina Silbiger, mais conhecida
por Rosa, que faleceu em 2/1/19.