Do Arcadismo ao Concreto de Cimento Armado

I

A flor da minha rua

Tinha o brilho da lua.

Um dia a tempestade

Encobriu a lua

E a enxurrada

Arrastou a flor.

Porém a lua,

Na calmaria,

Retornou

Com seu brilho máximo.

II

O ciúme da minha musa

Tem o veneno

Da cobra coral

Quando engole o sapo.

Um dia

O gavião

Levou a cobra coral

Para o seu banquete

Matinal

No topo do rochedo

Libertando o sapo

Da cadeia alimentar

Da cobra coral.

Porém,

O veneno

Do ciúme da minha musa,

Matou seu analista

No dia em que ele

Se deitou no divã

Com outra paciente.

III

A castidade da minha vizinha

É mais falsa

Do que nota de dez centavos.

Enganaram a sonsa

E a polícia tonta

Não prendeu os falsários.

Porém

A castidade da minha vizinha

Se libertou

No cabaré da esquina.

IV

A minha musa

Gosta do bom português.

E o bom português

Foi aquele que veio

Entre os mil e quinhentos homens

Da esquadra de Cabral

E trouxe

Três toneladas de bacalhau.

Cabral retornou para el-rey

Sem bacalhau.

E o bom português

Aqui ficou

Comendo bacalhau

E brincando

De tocar fogo em índio

Enquanto fazia digestão.

V

Sou poeta do mato

E vivo no mato

Comendo jacaré

E caçando onças-pintadas

Para tirar a pele

E fazer um casaco de vison

Para a minha musa.

Um dia a vizinha casta,

Que é do IBAMA,

Mandou me prender

Nos seus braços.

E a onça-pintada,

Livre, leve e solta,

Correu pelo mato

A fazer poesias

Para minha musa

Que preferiu a onça-pintada

Ao casaco de pele.