MOÍDO
MOÍDO
As pás do moinho mal se movem
Estão pesadas e cheias de buracos
Os ventos outrora fortes
Não passam de aragens
As quatro pás parecem dividir as etapas da vida
Nervosas na primeira fase
Fortes correntes na segunda
Sublimes na terceira
Melancólicas na quarta
Já não há o Quixote insano
O Rocinante que o carrega
Resta um pouco de Sancho
Com sua protuberante pança
Na escuridão da visão
Na bolha de sobrevida
Prestes a estourar
A lança já não atinge ninguém
Não tem força para amar
A tem para odiar
O crepúsculo cinzento
Que resume o livro da vida
O boneco travestido de gente
Preço aos cordames
Das vontades alheias
Decoração de coração
Que cansado quer abdicar de sua função
Batendo cada vez mais lento