MOÍDO

MOÍDO

As pás do moinho mal se movem

Estão pesadas e cheias de buracos

Os ventos outrora fortes

Não passam de aragens

As quatro pás parecem dividir as etapas da vida

Nervosas na primeira fase

Fortes correntes na segunda

Sublimes na terceira

Melancólicas na quarta

Já não há o Quixote insano

O Rocinante que o carrega

Resta um pouco de Sancho

Com sua protuberante pança

Na escuridão da visão

Na bolha de sobrevida

Prestes a estourar

A lança já não atinge ninguém

Não tem força para amar

A tem para odiar

O crepúsculo cinzento

Que resume o livro da vida

O boneco travestido de gente

Preço aos cordames

Das vontades alheias

Decoração de coração

Que cansado quer abdicar de sua função

Batendo cada vez mais lento

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 16/12/2018
Reeditado em 16/12/2018
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