Valsa no escuro
Um lápis insone na madrugada,
inquietação que indaga.
Onde minha paz?
Onde a razão? Será que a quero?
Tua imagem me ronda
sutil, fugidia...
pressinto-te, mas tu não te mostras.
Onde o meu juízo (se é que o posso conclamar)?
Tenho sono, tenho fome, sinto frio...
Mas só vejo esse vazio
e já nada mais parece real.
E tu, serás?
Ou virás dos recônditos inconscientes,
colorido de retalhos oníricos?
Pressinto-te, sonho-te,
mas tu, tu mesmo, não te mostras.
Que faço eu aqui introspecta,
de cenho franzido, matutando?
Haverá resposta para o que não sei perguntar?
Que és? Que fazes aqui nas minhas entrelinhas?
Por que não logro afastar-me?
O dia, as horas, a noite, os instantes...
tudo parado enquanto tu me rondas.
Estou em suspenso,
já nada parece real, como tu.
Onde o elo com o mundo?
Que é feito da clareza, da lucidez?
De repente, sinto-me à deriva...
onde o chão, o norte, a direção?
Ah, homem de sombras...
que é que te impede a entrega?
Eu, no escuro, aventuro-me em valsa,
enquanto tu guardas teu pé de ensaiar um passo.
Por que tu tocas tão envolvente música
e te escondes em tuas sombras,
deixando-me rodopiar ao léu
pelos salões do coração?
Põe teu pé ao lado do meu!
Dá-me a mão...
Se tens medo, eu te seguro.
Mas sai das sombras e vem pra perto!
Deixa a música de lado
e vem dançar ao som do infinito!