Ao feiticeiro da tribo
Quero ser voz pra soltar minhas vozes sonolentas,
aquelas que tentam caminhar e se esborracham no chão.
Quero ser atalho pra atingir minhas fronteiras,
até aquelas que tanto proibi de nascer.
Quero ser pedinte pra revoar dourados aparos,
ajudando meus frutos a não fugir do ringue.
Quero ser Deus pra ousar passos mais aguçados,
aqueles que sempre teimei em embalar e nada fiz.
Quero ser estrela pra espaçar cheiros de culatra linda,
que orvalharam tambores de carcaça de feiticeiro da tribo.
Quero ser poeta pra enxovalhar as mandingas de sofá,
as lépidas toalhas de seda repentina,
as valsas desse cangaceiro em flor.
Mas tudo ainda está por fazer,
o tempo pouco soletra, pouco rege seus rincões da razão.
E eu, soluçando consternados rojões ao luar,
estilhaço as esperas, as voltas, os encontros,
tão possuídos de mel pegajoso,
tão filtrados nesse vendaval de romance,
tão espremidos nos dentes esvaídos da paixão.
Agora, absolvido pelos flácidos gorros do então,
vou à ribanceira dos porões cariados do perdão
e lá imploro por ar, por remendos sejam quais forem,
voltando pro ninho com as pernas lambuzadas de óleo de jasmim,
para voltar à luta mais soturno, mais boquiaberto,
mais triunfal.