Arranhando as páginas

 


Quando me faltar a inspiração, estarei morta,
pois não me falta,
nunca me falta inspiração, mas,
quando me dá esse aperto imenso
na alma, eu desenho velhas casas, desenho

chaminés,
e aves à voar, desenho flores sem borboletas,

ao sol, com abelhas sem mel, à esmo.


Desenho flores, ah faz tempo que as desenho,
elas me absorvem, levam-me para

não sei aonde,
e os meus pensamentos  divagam
entre um não querer me encontrar,
um não querer dizer o que me vai por dentro,
por querer fugir desse mundo mudo,
por que nada
do que ele diz me interessa, e por nada achar

que vale a pena dizer, vou no meu valioso

silêncio, sem querer saber nada de  você,

nem de mim.


Fico com o meu olhar sem vida arrastando-se
para tão distante e por caminhos estranhos me perco,
quando me dou conta do lugar em que me encontro,
cá estou arranhando as páginas,

e tantas linhas tortas...


E tantos sonhos fogem-me por entre os dedos
e angústias se apresentam diante da minha alma,
que não as recebe,
por encontrar-se já tão sufocada e nada mais quer dizer,

só sentir,
pois ninguém poderia compreender, por isso calar

é uma saída.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 13/12/2018
Reeditado em 27/09/2024
Código do texto: T6526242
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