Arranhando as páginas
Quando me faltar a inspiração, estarei morta,
pois não me falta,
nunca me falta inspiração, mas,
quando me dá esse aperto imenso
na alma, eu desenho velhas casas, desenho
chaminés,
e aves à voar, desenho flores sem borboletas,
ao sol, com abelhas sem mel, à esmo.
Desenho flores, ah faz tempo que as desenho,
elas me absorvem, levam-me para
não sei aonde,
e os meus pensamentos divagam
entre um não querer me encontrar,
um não querer dizer o que me vai por dentro,
por querer fugir desse mundo mudo,
por que nada
do que ele diz me interessa, e por nada achar
que vale a pena dizer, vou no meu valioso
silêncio, sem querer saber nada de você,
nem de mim.
Fico com o meu olhar sem vida arrastando-se
para tão distante e por caminhos estranhos me perco,
quando me dou conta do lugar em que me encontro,
cá estou arranhando as páginas,
e tantas linhas tortas...
E tantos sonhos fogem-me por entre os dedos
e angústias se apresentam diante da minha alma,
que não as recebe,
por encontrar-se já tão sufocada e nada mais quer dizer,
só sentir,
pois ninguém poderia compreender, por isso calar
é uma saída.