POESIA AUTO-SUFICIENTE
Me dá um sono, me dá um sono...
As pessoas sentam em minha frente
as crianças voam e aterrissam...
como frangos assustados.
... e as mães e pais,
ficam a recusar todos os seus pedidos
... afim de reduzir a quantidade adequada
de cerveja, que permita a ilusão
de que a vida é um pouco mais doce.
Ahh..., me dá um sono, me dá um sono...
E eu encaro o meu caderno
novo, verde, liso, cheiroso...
[uma das coisas que me deixa
mais feliz, é quando ganho, ou compro
um caderninho novo... pois ele representa
o mar de POSSIBILIDADES.
Tenho sono e o caderno me encara
e eu penso; "vou te corromper,
mais tarde..."
O passado recente, o passado passado...
os fantasmas dos poemas que se foram
tentam invadir as mensagens
do meu celular e de meus e-mails
e as fotos espalhadas pelo mundinho online,
e espectros de moças,
possuídas, incorporadas, histéricas,
lindas, gostosas, cheirosas, deslumbrantes...
Doces e amargas ao mesmo tempo...
tentam se encostar em minha pele
e em meu espírito, enquanto eu estou só, estou só...
Me dá um sono, me dá... me dá
Me dá alguma coisa, por favor...
Qualquer coisa...
Nada e nem ninguém no planeta
seria capaz de me atingir agora...
cadernos espalhados pela mesa
e outros cadernos espalhados
pelo quarto, lááááá em Salvador...
e também outros, ali em minha casa.
Me deu fome, me deu fome
Eu comia um ser humano!
O cara sentado no restaurante
... gordo como um porco esperando
a hora do abate...
[ele só fala em dinheiro!]
Pouco se sabe de seus sonhos, sua infância...
Pouco se sabe de sua liberdade,
do seu sexo, de seu pinto duro...
[o que deixa ele duro? E ao mesmo tempo
amolece todo o restante?]
Ele deve ter um pouco mais de idade que eu...
ele e sua mulher parecem dois idosos.
Me dá um sono e eu...
julgo, julgo, julgo...
Eu julgo pra não precisar
ter que me olhar no espelho
... lá em casa não tem espelhos.
E eu estou só, eu estou só...
Só... só... só.
Nada e nem ninguém no planeta
seria capaz de me atingir agora.