As cocadas
Brincávamos na rua,
Mas não era uma rua qualquer,
Era a rua dos nossos mais belos dias!
A rua das mãos doce!
A rua da Doce Senhora!
Quase sempre à tardinha
Quando o sol pintava o horizonte
E os pássaros procuravam as suas casas
Nas copas da arvores.
O vento passava lambendo as folhas
E levantando coisas que bailavam no ar,
Na rua, arribava as saias das mulheres
Algumas ficavam meio acanhadas
Outras nem ligavam para o vento.
Menos ainda com o levantar das suas saias.
Para nós, uma linda visão do paraíso!
Era o nosso primeiro alumbramento
Ainda, que, com os olhos de meninos.
Corríamos sobre as pedras da velha rua
E sentávamos nas calçadas das casas
Fazíamos apostas e tirávamos a sorte
Para ver quem iria sentar-se na calçada da doceira
Fazíamos o jogo com palitos da folha do coqueiro,
Pegávamos quatro palitos,
Quebrávamo-los em pedaços pequenos
E um de nós fechava a mão com os palitos.
Havia apena um palito menor que os outros
E quem pegasse aquele palito, era o ganhador!
E quem entre nós, ganhasse o jogo,
Sentava-se na calçada da Doce Senhora!
Poderia ficar com até duas cocadas
As maiores, as mais bonitas!
Mas não havia a mais gostosa,
Porque todas eram deliciosas!
E enquanto aquelas gostosuras
Não chegavam as nossas mãos
Ficávamos engolindo o ar!
Olhávamos uns para os outros
E riamos de nós mesmos,
Os engolidores de ventos!
O vento passava sob os nossos narizes
Trazia aquele cheiro doce,
Aquele cheiro gostoso de cocada!
Já era quase noite
Quando ela acabava de fazer as cocadas
Abria a porta e saia a rua
Aquele que estivesse na calçada,
Recebia as cocadas, bem quentinhas!
Era uma senhorinha de voz suave
Tinha os olhos bem pretinhos!
Os pês vestiam uma chinelinha azul
E a cada passo que ela dava
A chinelinha nos avisava
O barulho da chinelinha
Era música aos os nossos ouvidos.
Usava sempre um lenço amarrado a cabeça
E um colar de contas no pescoço,
Trazia no seu sorriso,
Algumas palavras amigas!
E nas mãos,
As doces cocadas!