Voem, filhos, voem!
A gente cria asas nos filhos pra voarem ao mundo, nos deixando com lembranças que são só nossas. Lembranças quando se extasiavam nas tetas felpudas de sua mãe, ou quando, trêmulos, delineavam passos cambaleantes. As primeiras palavras que saiam de sua boca no formato de grunhidos. suas descobertas de gostos, texturas, cores, cheiros. Lembro de suas festinhas de aniversário e a alegria irradiada por todo canto. Seu corpinho tomando nova forma, a descoberta da escolinha, dos novos amigos, novos desafios. Alguns choros que pareciam não ter fim, e a gente sem entender os porquês. As brigas quando já se achavam gigantes, nas rebarbas de uma adolescência difícil de passar, de conviver, de entender. De repente, lá estavam eles, na pista da vida ligando os motores pra voar. Suas asas já robustas certamente vão precisar de reparos por causa
das turbulências que os esperam. Mas já se dizem capazes de enfrentar ventos contra, vendavais traiçoeiros, dilúvios que parecem não acabar nunca. Que coloquem o mundo nas mãos e sejam capazes de entendê-lo e domá-lo com sabedoria, generosidade e paz no coração. E que nunca esqueçam do caminho de volta, caso queiram ainda untar sua alma no nosso colo. Que ficará sempre aquecido e saudoso à sua espera.