CONDENADO A VIVER
Fico condenado a viver,
Porque morrer,
É o recomeço de tudo.
E enquanto a morte
Nao vem,
E pressa nao tem
Em cumprir sua missão
Na vida -- transformar em pó
Toda matéria putrefata,
Preparando nova estada
No além,
Me detenho no cantinho,
A esperar
A morte,
De sorte,
Que da terra, na errata,
Nao se me dá
Que nada saiba,
E no rosário de incertezas,
Só dores e tristezas,
Nada mais caiba ,
A caminhar,
Pela espinhosa estrada!...
E na atroz dúvida
A me atormentar--
Nao sei se falo,
Ou fico mudo?
Se me calo ,
0u fico fulo,
Se fi-lo,
Ou di-lo,
O que até então,
Nao terei dito?
Inevitavelmente fi-lo ,
Morrendo perdido
No emaranhado
De palavras vernaculares...
Condenado a viver,
Porque morrer,
É o recomeço de tudo!