Fuligens encardidas
Renata, João, Lúcia, Renato, Márcia Regina...
Nomes são rótulos que tascam na gente,
como sabão em pó na prateleira da venda.
Podemos ser Soraia, podemos ser Genésio,
dependendo da lua, do cheiro, do gosto, da festa,
dependendo do suor que vai cair do céu.
Podemos ser Joaquim, podemos ser Luana,
tem horas em que deixamos escapulir nossa besta,
fazemos jorrar outro fio de água,
deixamos bailar outro tipo de voz.
Podemos ser Laura, podemos ser Cíntia,
fêmeas de barba crescida, de degraus surrados,
buscando escorar seus medos, com bainha ainda por fazer,
com fado ainda por fecundar.
Talvez sejamos Pedro, ou Túlio, ou Jordão,
machos guerreando o pão até a morte,
mundanas disfarçando seus grunhidos de quero-mais.
Deus se confunde às vezes com seus cantos,
mandando anjos que mal sabem desnudar o chão,
esquecendo seus passos, suas geringonças de fazer,
deixando tudo no relento das almas, assim, assim.
Nossa embalagem entorpecida pouco diz,
nossa pele mal traduzida fica sem eco, sem sombra,
o que vale é o que o sangue é, o que o sangue manda,
o resto é fuligem que numa leve assoprada some de vez.