SOB OS OLHOS

Hoje eu estava na multidão.

A tudo observava.

A música era envolvente.

Ditava a batida do coração.

Eu olhava a multidão,

Que de alguma forma seguia o ritmo.

E este, bem forte, se fazia presente em todo o corpo

Passava pelos músculos, pele, veias, espinhaço.

E as pessoas observadas, acanhadas ou não, transpiravam a música.

Junto com a batida que fazia a multidão pulsar

Haviam versos

Toda a consonância da música com a multidão

Não aparecia entre esta e a letra daquela.

Eu a tudo observava,

E observava boquiaberto,

A consonância e a dissonância

Abrigadas ali sob o mesmo teto.

As bocas ritmadas

Apenas vomitavam palavras.

Não sabiam que tais palavras

Se ligavam em um sentido.

O ritmo embalava o coração,

Pernas, sexo, braços, garganta, tripas, boca e mãos.

O ritmo embalava tudo.

Só não aceitava em sua embalagem o conteúdo.