P R E C I O S I D A D E S (142)
Q U E I X A
Mulher, confias muito em tua eternidade:
pensas que hás-de prender nas mãos a primavera,
que as rosas da manhã durarão, que não há-de
ter para ti o tempo o rugido da fera.
Que entre as garras mutila a carne sem piedade,
e os lírios brancos do rosto gentil lacera:
entre um beijo e um sorriso aí surge a mortandade
dos sonhos d'oiro, que cria em nós a quimera !...
Hão-de fugir de ti, como ao inverno que chega,
em longas cordas vão fugindo as andorinhas:
cobrirão lenções d'água o cadáver da veiga . . .
E então te lembrarás das lindas canções minhas,
cheia daquele meigo olhar da noite meiga,
e para as quais o teu olhar de sol não tinhas.