À ESPREITA

Atravesso

meus equinócios

fora das estações,

e meus solstícios

me barram

pedindo a senha.

Orbito

minha nebulosa

invisível a olho nu,

meu dirigível

é um buraco negro

voraz e medonho.

Tenho roupa de alquimia

tingida pelo arco-íris

depois da chuva,

não tenho idade de censura,

mas sou impróprio

para os doutrinados.

Tento não ser,

mas sou apenas mais um passageiro

com a mania não exclusiva

de brigar pela poltrona da janela,

pensando que toda a beleza

está sempre além do horizonte.

E não há fuga,

os gritos do frenesi delirante machucam o silêncio,

é impossível camuflar

a síndrome do predador disfarçado de presa,

estou numa selva à espreita

com meus dentes a procura de uma jugular.