Antes que abaixem suas cortinas
Diga lá, diga lá, qual seu personagem de hoje?
Me diz se vai encenar drama, comédia.
Se vai estraçalhar as fronteiras dessa alma muda.
Se vai seguir o roteiro ou jogá-lo às traças, trazendo pra tona
aquelas pontiagudas coisas que trancafiava assustado,
vadias vozes que bagunçavam sua vez.
Que raça de público virá pra ver seu legado, sua crina mal ajambrada de farsante dos palcos?
Será que vão chorar, extasiar, estrebuchar, jogar tomates em você?
Poderão vir aplausos em cena aberta, tão guerreiramente gritantes, que acabarão com o sossego de Deus.
Poderão esmurrar seu teatro capenga, cuspindo fétidos desprezos pela sua grotesca cena.
Somos atores natos nesse circo descarado em que a vida se fez.
Fazemos valer o papel que nos merecerem, desparafusados do chão e agarrando estrelas e sóis com os pelos do peito.
Somos mambembes sem dono, seguindo ventos esquisitos, indo atrás da plumagem do destino feito mocorongos seres quaisquer.
Que seu personagem seja capaz de entreter o pó do tempo para que deixe de só correr, loucamente correr.
Que deixe vazar pelos cantos dos poros as verdades da boca tapada.
Que deixe ser o que você é - com todos seus insetos, tatuagens e pedaços de bolos de fubá.