Suando o tempo.
O rio da minha vida tem águas sedentas,
algumas conhecidas, outras tantas a desvendar,
que seguem seu curso escavando chãos de mim.
Nesse rio guardo meus arreios, minhas fantasias,
receitas daqueles quitutes que só eu sei,
guardo cheiros de tantos estopins de alegria,
aguardo os ventos embebidos nos mistérios da dor.
Nesse rio, de vértebras, ferrolhos e matas cerradas,
vou me enfurnando à cata de ar, de luz, de raiz,
vou arrebatando frutos, trincheiras, cicatrizes,
atrizes de um espetáculo triunfal.
Um dia esse rio vai secar de vez,
emergindo caatingas pela jornada cumprida,
néctar do que fiz das minhas mãos e sonhos.
Então estarei quites com os senhores do jogo,
pronto pra virar nascente,
retomando caminhadas, travessuras e desencantos,
cerzindo minha alma do que o tempo suar.