Bom Jesus
Centenários relicários
repousam agora calados
mas guardam um passado vivo
mistérios emparedados
dos noturnos burburinhos...
Ainda, no ar, o ressoar
de gemidos estrépito
de farras e de algazarra
e de perfumes e de sexo...
Em muitos ainda há lembranças
da luz que tingia em sangue
o azul fugaz, enfumaçado
dos cigarros baforados
festas de homens e fedelhos
de espírito, embriagados...
Açougue dos prazeres
clandestinos carnavais...
Em seus sobrados ainda há brados
nos cochichos de pardais
ainda há contos embrulhados
histórias de paparicos
dos venéreos carrosséis...
Antigo Recife de mortos corais
Rua do Bom Jesus
cemitério de bordéis
de inhacas impregnadas
vestígios de devaneios
de orgias e devassidões...
Almas de putas e de gigolôs
também donas de pensão
rondam os soturnos trilhos
perdidos, caçam apetrechos
que os tragam reencarnação...