Boa noite
Uma boa noite de sono
faz o tempo saltitar de alegria,
feito alma do bebê depois da mamada.
O gostoso disso
é perceber dúvidas se mandando,
angústias virando pó,
ímpetos raivosos domados,
o sangue deixando de encardir porões secretos.
Dormir emplumado abre nosso baú da paz,
acaba de vez com certos tumores vadios,
impedindo de viver como tanto merecíamos.
O sono é réquiem bendito, amado,
que leva fardos atrozes embora,
que faz cada parte da gente sambar sem amarras,
agigantando nossas varandas mais guardadas,
respigando os mundos com mais aguçado suor.
Dormir bem em paz
desarma medos desafinados,
que diziam nunca ter fim,
deportando sua voz, seu cheiro, seu gosto,
pro diabo que o carreguem.
Só dormindo aliviamos certos andaimes
que adoram se dizer montanha
pra nos fazer estatelar no chão,
descabelando pensamentos,
apodrecendo sonhos, dizimando reinos inteiros.
destituindo os empurrões da vida.
As boas noites são passos desenforcados,
guizos que vêm dos confins mais confins,
fazendo as engrenagens da dor esquecer de gemer,
colocando nossos alívios em marcha,
chamando de volta o néctar de algodão-doce.