Além de você

Eu vejo você

além do olhar obscuro

que se confunde

com a penumbra de mim mesma

Além da luz

que enfeitiça e maquia

nossas incertezas

Além do homem

que me afoga

e me consome inteira

Eu vejo você

além do gesto do pedinte

que se apoia em ombros gelados

Além das aglomerações,

das multidões acumuladas

no vácuo das existências

Eu vejo você

E receio perder seu olhar

para o nada

E receio pela embriaguez

insensata

Pela insanidade

doce e terna

E divido teu peso,

carrego tua escuridão em mim

Então, a noite dizimada nos ampara

E, finalmente, vejo você

consumindo-se

na face da madrugada

E eu, estática, deixo que a aurora

lhe refaça e como outrora

lhe devolva ao meu olhar

envolto a qualquer despertar

LenaCilene
Enviado por LenaCilene em 28/11/2018
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