Além de você
Eu vejo você
além do olhar obscuro
que se confunde
com a penumbra de mim mesma
Além da luz
que enfeitiça e maquia
nossas incertezas
Além do homem
que me afoga
e me consome inteira
Eu vejo você
além do gesto do pedinte
que se apoia em ombros gelados
Além das aglomerações,
das multidões acumuladas
no vácuo das existências
Eu vejo você
E receio perder seu olhar
para o nada
E receio pela embriaguez
insensata
Pela insanidade
doce e terna
E divido teu peso,
carrego tua escuridão em mim
Então, a noite dizimada nos ampara
E, finalmente, vejo você
consumindo-se
na face da madrugada
E eu, estática, deixo que a aurora
lhe refaça e como outrora
lhe devolva ao meu olhar
envolto a qualquer despertar