Non ducor duco

Entre o sábio, que tudo sabe,

E o néscio, que de nada sabe,

Está o matuto:

Aquele que sabe tudo do nada

E nada do tudo.

Homem perseguido por espíritos;

Mas protegido por qualquer santo

Que venha chamar.

Amuletos não faltam ao homem do interior:

Fitas, correntes, imagens e panfletos...

Tudo se faz misterioso aos olhos amarelos

Do homem sertanejo.

Pela sua cor, pensam serem eles

Filho de Mani – não como o branco cerne –,

Mas tal a casca dura e marrom,

Que ainda suja de solo vivo,

É retirada e jogada aos porcos da modernização.

Estes sim preocupam os filhos da terra.

Eles não conhecem São Paulo,

Somente sonham a ela chegar

E mesmo quando chegam nela nunca estão,

Serão sempre os desertados do próprio chão.

Quem sonhou fazer do paulista

O metro da nação,

Perdeu-se na melodia e no tom.

Na verdade, fez dele um triste bufão,

Com tantas adiposidades cerebrais,

Que espantou até o inglês e seu smoking.

Locomotiva varonil:

Homens de cartola e fraque

Acreditam conduzir o Brasil.

Não basta a eles pintarem-se de máxima latina,

Desejam ser o concerto da nação.

Ó cidade de aço cinza,

És mais seca que a rasteira Caatinga;

És mais oblíqua que o mandacaru;

Machuca mais que as hastas do xique-xique.

O que pensas dos nossos

Que, como um vento árido,

Escorrem da fome para a humilhação

E tornam-se estrangeiros em sua própria nação?

Ó paulistas, se não fosse meu braço e minha enxada;

Se não fosse os quitutes que vos apresentei;

Se não fosse as ladainhas que vos ensinei;

Se não fosse os calos na mão que lhos dei.

O que tu serias? Apenas um vagão?

Seus modernos de 22,

Somente foram modernos,

Porque, dos tabuleiros de nossas doceiras,

Comeram dos docinhos antieuclidianos

De uma bela baiana que nunca se viu por aí.

Aqui, não se vê garoa ou máquinas a buzinar,

O que se tem é poeira e o burro a urrar;

No entanto, de pensar estamos livres,

Não nos sufoca os arranha-céus,

Muito menos os cifrões que em ti crê circular.

O que queres mundo moderno?

Apenas um adjetivo para se adjetivar?

Sentado, agora, em minha cadeira de balanço,

Vejo com é bom de pretérito me chamar.

Não me enquadro em sua modernização,

Nem procures, em uma moldura, na sua sala colocar-me;

Pois Canudos caiu, mas nunca deixou de lutar.

De ti, despeço-me, sorumbática civilização,

Para cama de vento vou retirar-me

E sonhar com coisas que tu nem podes imaginar:

Vai, estas livre; ó burguês medonho,

Busque repouso em teu cifrão,

Já que em mim repousa todo sertão.