ESMOLA NO FAROL
Trânsito no anda e para matinal
Vermelho novamente o sinal
Imagem vulgar e banal
Presentes sempre o mesmo casal
Párias da estrutura social
Repetem rotineiro ritual
Batem no vidro lateral
Com seu tatibitate habitual
Esmolam na avenida central
De relance percorro o visual
Ela tem uma tatuagem tribal
Ele com ancestrais no Senegal
Ardem de dia sob o sol tropical
Dormem nos degraus da Catedral
Ignorados nas notícias de jornal
Não aparecem em cartão postal
Tratados quais figura virtual
Ela portadora de doença mental
Imagina-se num grande musical
Ensaia passos de uma dança sensual
Ele tem modo instintivo e animal
Faz um trejeito e nada cordial
Exibe na cintura um punhal
Pronto a enfrentar qualquer rival
Aparentemente não fazem mal
Mas, não seria nada anormal
Estivessem na condicional
Enquadrados no Código Penal
Possuíssem ficha criminal
Porte de pacau, furto ocasional
Ou como é comum e natural
Vítimas de preconceito racial
Semáforo pinta verde afinal
Buzinas em barulho infernal
Estendo uma moeda trivial
Ela guarda no bolso do avental
Ele acena um gesto de tchau
Sai coçando o órgão genital
Cena apaga-se lenta e gradual
Até novo vermelho no sinal