CUNHAPORÃ - UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE 08
CUNHAPORÃ - UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE 08
Para quem está chegando agora.
CUNHAPORÃ – UMA HISTÓRIA DE AMOR é um poema-romance épico, composto de 271 estrofes e 1495 versos, dedicado a Gonçalves dias. Por sua extensão, ele será publicado em 9 capítulos semanais.
Para que o entendimento do enredo não se perca, procure ler a partir da PARTE 01.
Se Mestre Gonçalves Dias, de onde estiver, puder considerar este trabalho como retribuição a tudo de belo que nos ofertou, fico feliz, porque o simples fato de falar seu idioma e poder ler sua magnífica obra nos originais, já me torna um felizardo.
JB Xavier
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CUNHAPORÃ - Parte VIII
ADEUS AOS SONHOS
Joelhos vergados,
Cabelos revoltos,
Dedos crispados,
Sonhos tão soltos.
Amores perdidos,
Sutis pensamentos,
Peitos feridos,
Tristes lamentos.
Lágrimas tensas,
Choros inúteis,
Vidas suspensas,
Planos tão fúteis.
Tristes adornos,
Sonhos dourados,
Lábios tão mornos,
Tudo é passado.
Choros tristonhos,
Noite tão fria,
Adeus para os sonhos,
A Morte sorria.
Passado, presente,
Incerto futuro.
pranto tão quente,
Lago tão puro.
Vida de esperas,
Tanta ansiedade,
Querêcias, quimeras,
Louca saudade...
Seria Tupã assim tão desatento
Que mortes sem honra deixasse ao relento
Na límpida noite medonha e cruel?
Seriam Yara e Jassy tão perversas
Que esqueçam de suas solenes promessas
Deixando p’rá si o amargo do fel?
Nas folhas os ventos brincavam serenos,
E as aves voando eram como acenos,
Vãs despedidas de tristes tormentos.
Pairava no ar o perfume das flores,
Bailavam no espaço os sonhos de amores
Perdendo-se etéreos pelo firmamento.
Sutil movimento a folhagem mexeu
E o braço assassino, e o arco potente
Por entre o arvoredo reapareceu.
E mais uma flecha postou-se em sua mão,
Que o ybirapar outra vez retesou.
A flecha partiu na infamante missão.
Voando certeira o alvo encontrou.
Rápida, fria, insensível, precisa,
O seio moreno ela atravessou.
* * *
Nenhum gemido havia
Para ser dado,
Nenhum clamor.
Apenas sangue
E doces lágrimas
De amor...
O corpo bronzeado,
Curvou-se trespassado
Ao preço pago.
Amor loucura!
Suavemente
Deslizou para o lago.
Sobre a laje o vermelho do sangue incendido.
Sob a água o final do amor tão sofrido,
E a grande vingança, enfim consumada.
E por toda a floresta o vento levou
A doentia, terrível, feroz gargalhada.
O Céu protestou tonitruante
No instante
Em que a voz de Yara
Entrecortada,
Velada,
Bradou:
"Quem ri de Yara?
Quem ri de Jassy?
Quem zomba de todos
Os planos traçados?
Quem sois, desgraçado
Que vindo dos lodos
Postaste-te aqui?
Infeliz para sempre e maldito sê tu!
Que a honra das tabas por terra jogaste.
Outrora tu foste o grande Ygarussú,
E agora és no mundo seu último traste.
Tamanho crime jamais terá
Castigo suficiente...
Tamanha dor jamais será
Ausente...
Que Tupã se recorde do traidor
Que para matar
Usou o nome
Do amor...”
E o Céu trovejou em estalos sombrios,
Nos montes as chuvas correram nos rios
Alagando a floresta em terrível castigo.
Acima das nuvens Tupã se irritara
E cedeu à vingança, ouvindo de Yara
O crime terrível, na morte do amigo...
E sua voz chicoteou tonitruante
Pela noite assustada, nesse instante...
"Vil és tu, mortal guerreiro, que ousaste
Pôr em ti essa insana majestade.
Vil és tu, mortal guerreiro, que empunhaste
Torpe flecha com tamanha insanidade.
Sê maldito e sozinho sobre a terra,
Que a teus passos murche a relva e o ar ameno
Ao sentir que a Morte em ti, toda se encerra
Se transforme no teu peito em vil veneno.
Que teu pranto amigo algum não enterneça.
E que a dor que agora sentes mais se amplie.
Nem o pão ao teu sustento tu mereças,
Nem o Amor, em teu amor, se vanglorie.
Que tuas forças abandonem os teus braços,
Que tua noite traga espectros medonhos.
Moça alguma te ampare em seu regaço,
Nem se façam realidade os teus sonhos.
Vil és tu, mortal guerreiro, e mais o seja
Quem ousar fazer da Morte sua musa.
Infeliz por sobre a terra é quem deseja
A traição! e quem mata! e quem acusa!
Não encontres rio algum, onde, cansado,
Possas tu a louca sede mitigar.
Nem os restos do jantar abandonado
Possa enfim a tua fome debelar.
Que teu crime hediondo não se apague,
Que acuado vivas sempre eras e eras.
Que o espírito inconstante apenas vague
Eternamente, se frustrando com quimeras.
Levarás a eternidade procurando
O teu amor, e mergulhado na saudade
Hei de escutar em ti o pranto, e soluçando
Não terás em parte alguma a caridade.
Que à tua volta rondem sempre os inimigos.
Que o procurar seja só inutilidade.
Saibam todos que mataste teus amigos,
e que essa busca vá ao fim da Eternidade.
Tu, covarde, que mataste um sonho amado,
Não há preço algum que a mim possas pagar.
Sê maldito, e sozinho, e desgraçado.
Vivas tu por esse mundo a vagar.
Sejas tu até o fim da tua vida
Um eterno e esquecido vagabundo.
Povo algum jamais te dê sua acolhida.
Sê maldito e sozinho neste mundo!
* * *
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A CASCATA E O CARVALHO