INCÊNDIO DA BAÍA
quem lhe nega olhos, sereia?
na ponta do porto
na onda quebrada,
o clarão violento na noite escura
no mar de trabalho, crime e guerra
a que o casario dá as costas
preta,
nenhum grilhão lhe prende as pernas
escamas envernizadas
lisas, fugidias,
cobre cintilando
sobre as crostas cansadas
do porto velho,
de navios surrados e pobres
nêga,
quem lhe nega os olhos,
os perde nos cantos.
que te viu e nega,
já se negou.
ilusão, ilustração profunda
encanto da águas de onde vem
da noite de que é oriunda
preta,
teus olhos em chamas
tua fúria nas águas da baía
caldeirão fervente em raiva!
do teu choro:
o fogo nos cascos
a brasa ardendo,
cozendo a terra crua das paredes,
esmaltando as telhas
incendiando os assoalhos brancos
encandeando com labaredas bailarinas