DAS COISAS QUE NÃO SABEMOS - BOTÂNICA

às vezes as árvores se curvam e se abraçam

enroscadas apagam o fim e o começo de cada uma

e se tornam únicas

cala-te e ouça o ruído das folhas que se entrelaçam

para que as seivas se misturem e cresçam como espuma

e se derramem em verdes túnicas

em oculto o jacarandá toma o cerne do cedro

e dele deixa a lembrança de sua lígnea potência

a escorrer pelo chão

e a baraúna lentamente conquistada metro a metro

seduzida cede à nova e absurda experiência

de compartilhar o coração

noite mata adentro espicha caprichosa sua asa de gralha

para proteger os gigantes enamorados da inveja das estrelas

e da censura da lua

cala-te e ouça o sussurro inconsequente da sibipiruna grisalha

que no outono da vida ouviu de um raro guanandi um prazer em conhecê-la

e então curvou-se, solícita e nua