Epidemia
Em um reino muito distante
bateu uma epidemia,
que a ciência muito atenta
tentou descobrir em vão,
a causa do que se via.
Como se fosse combinado
todos um certo dia,
viram-se comunicando,
toda e qualquer questão,
através da poesia.
Cada um que acordava
não dizia só bom dia,
buscava logo a palavra,
que combinasse melhor
ao desejo que transmitia.
A réplica vinha no ato,
de tão forte era a mania.
Verso novo,
sem igual.
Inspiração não faltava.
Adeus à monotonia!
A vida não se alterava
toda a rotina seguia.
Trabalho, lazer, fé,
amarrados pela força da rima.
Quem diria:
O bem e o mal em sintonia.
Nos atritos e conflitos
nada de pancadaria.
O limite pelo verso imposto,
não muito permitia
Aceitava-se
um “filho da mãe”,
ou no máximo um “filho da tia”.
Nessa terra, vejam só!
Esbanjando melodia,
surgiu um problema único:
Se todos eram poetas,
poetas não existiam!
Nem pintores ou músicos,
pois, todos, do mesmo fariam.
Diante de tamanha ameaça,
decretou a monarquia:
Fim do direito ao belo!
Basta de democracia!
Viver de arte já é difícil,
pois, nem todo mundo aprecia.
Cada macaco no seu galho,
pra manter a harmonia.
Invadir terreno sagrado,
demanda sabedoria.
Raros são os que produzem,
com ou sem rima,
a verdadeira poesia