Confronto
A sensação é de perda, como se tivesse perdido algo de grande valor
É um vazio enorme que me faz me mover no modo automático
Não posso raciocinar, não quero sentir, não tenho condições de conversar
Apenas continuo de pé, com passos lentos e imprecisos, o olhar estático.
A derrota já havia sido anunciada, mas desistir nunca foi opção
Era a luta pela vida, pelo amor, pela democracia, pelo respeito
Seria necessário renegar as minhas origens, minha história de vida
Sepultar com pás de cimento tudo de belo que criou raízes no meu peito.
Essa luta significava mais que a decisão do cenário político atual
Travou-se o duelo do bem contra o mal, da liberdade contra a opressão
A luta do amor contra o ódio, da diversidade contra o preconceito
A batalha da democracia contra a ditadura, do rancor contra o perdão.
Não se podia ficar em cima do muro assistindo o futuro daqueles que amamos
Fez-se necessário escolher um lado e lutar essa guerra até o fim
De um lado escolheu-se livros, do outro armas bélicas até mesmo a inocentes
Parecia lógico que mais uma vez o bem venceria, mas não foi bem assim.
Ouvi uma vez que “eu não gostaria de estar no lugar dos que venceram”
É a vitória do ódio, ódio a uma ideologia, a um povo, a um partido.
Uma festa sem alegria, falta afeto, amorosidade, o abraço apertado do amigo
Há sangue nos olhos dos que comemoram “a derrota do inimigo”.
Hoje sinto no peito o duelo entre o substantivo luto e o verbo lutar
Um lado quer ser ativo, quer gritar, ir às ruas, manter vivo o pulsar do coração
Mas o outro só quer casa, reclusão, chorar sua perda, vivenciar seu luto
Hoje não tenho a força necessária para continuar a luta em prol da nação.
Sei que preciso erguer a cabeça, pois a guerra ainda está pra começar
Mas hoje Tenho uma asa machucada e a outra protege quem trago no peito
Mantenho-me calada, pois não consigo espalhar o amor que eu acredito
Quiçá amanhã eu levante, pois tudo passa, porém hoje m’alma pede sossego.
29/10/2018