BORBOLETA
O salão está quieto. A orquestra muda.
Os casais dispersos escurecem-se nas ruas.
Riscos de saudades evidenciam-se no assoalho.
Apenas um ponto branco reluz, solitário,
Rege com maestria o piano cego, as liras
E os instrumentos de orgia.
De resto, as esquinas da sala vazia.
Tudo isso por quê? Tudo pela liberdade! São ávidos por ela.
Dançam pela ganância de verem brotar cálidas asas,
Rodando o afeto como um vestido godê.
Por quê? Por quê? Liberdade não será apenas um programa de TV?
E eles dançam e dançam e dançam e dançam...
Noutros bailes, é verdade, mas dançam...
Procuram aqui, procuram ali. Beijam-se aqui, beijam-se ali.
Procuram em rodopios e rodam e rodam.
Lá longe, pela profundeza da janela,
Persiste a sílaba – a liberdade rústica,
Íntegra e intacta – que cobre o silêncio.
Mas o silêncio está quieto ainda. A orquestra, impávida, muda.
O exemplo sou eu. O salão sou eu. A orquestra sou eu. Futuras canções sou eu.
Coitadas das pessoas que as procuram em vão,
Esquecem-se de que o coração vive preso, quase surdo...
Pelo menos chora grudado ao peito
Pedindo o afago de sua mão.