O POETA E O ROMANCISTA (“Um conto ou um poema?”)

Então o romancista, bebeu um dos seus longos goles de uísque, e ao final, deixando metade cheio (ou metade vazio), num soluço, em tom solene, disse:

"Para escrever um bom romance

você têm que fazer muitas pesquisas,

estar imerso na história, conhecer ambientes

decifrar o âmago das pessoas

jamais se perder do

perfil dos personagens

Tentar se ater à todos os detalhes

ser conciso,

ler e reler sua própria obra

incessantemente e não deixar

nenhuma brecha "

Ao que o poeta, distraidamente enquanto rabiscava um caderninho de carpa preta, comentou sorrindo:

"Parece exaustivo,

chato pra caralho."

Então o romancista, rindo com um ar superior e de ironia, ofendido por dentro, porém esbanjando toda a – falsa - simpatia, perguntou:

“Do que TU precisas então?!

Para escrever um bom poema???”

E o poeta, bem de pronto respondeu:

“Ora...

apenas um punhado

de rejeições de amor.

(o que é muito fácil, num mundo

em que todos querem amar

sem abrir mão de porra alguma!)”.

Que mais?!

“Ora, então...

Um tiquinho de

pequeninas desgraças.

(o que também

não é difícil..., neste mundo,

temos mais desgraças

do que água potável!)”

O romancista riu...

“Ora, ora, ora...

Também, arrume

Uma ou outra mulher raivosa

te odiando... aqui e ali.

(O que é muito fácil,

pra mim por questões óbvias.)”

“Não entendi o seu “óbvio” – Bradou o romancista.

“Ora,

Mulher odeia mentira

E poetas mentem

... o tempo todo”

Gargalharam juntos

E o romancista provocou:

“SÓ isso?!”

O poeta concluiu.

“Consigo reunir

toda essa merda

em menos de uma semana.”

"Pratique o bem todos os dias e para todo mundo e você vai perceber que você já está no céu." (Jack Kerouac)