A saga da escritora Carolina Maria de Jesus
Nasceu no Estado de Minas Gerais, cidade de Sacramento
Passou poucas e boas na infância, maioria foi tormento
Uma senhora rica mirou a esperteza da menina preta ensolarada
Pensou que a qualquer custo, ela teria de ser letrada
Preto estudando no Brasil na década de 1920? Era impensável
Mas desafiar a ordem do branco era algo improvável
Matriculou a menina na escola, que logo aprendeu a ler
Fez um pedaço da segunda série e voltou a perecer
Carolina não só aprendeu as letras como agarrou amor à leitura
No meio da fome, do descalabro, essa foi sua grande feitura
Ainda em Sacramento o padre lhe acusou de furto numa festa da igreja
A vida que já não era fácil passou a ser maior peleja
Saiu de Minas Gerais e levou três meses para chegar na cidade da garoa
Catou papelão na rua, criou três filhos e nunca foi patroa
Escrevia o cotidiano da favela do Canindé
Pra escrever tudo aquilo e ficar famosa dependeu de muita fé
Isso porque condição não tinha, sua companheira era a fome
E curiosamente, foi essa condição que lhe deu renome
Relatar o sofrimento da vida na favela
Lhe rendeu uma mazela
Virou escritora famosa no mundo inteiro
Foi um sucesso tremendo, mas sorrateiro
Não importa o tempo e sim a intensadade
Carolina de origem pobre virou personalidade
Conheceu Clarice Lispector e viajou de avião
Teve seu livro Quarto de Despejo exibido na televisão
Por meio do teatro e do cinema
Carolina virou festa, virou poema
Hoje sua obra é material de pesquisa no Brasil e no mundo
Carolina não é lida no raso mas sim no profundo
Querem a todo custo entender
Como é ser escritora no meio de tanto sofrer
Mas não é o livro, a obra literária, sua maior glória
Seu maior feito, é seu percurso, sua trajetória
Carolina Maria de Jesus é sinônimo de força e resistência
É a história do povo brasileiro na sua essência