Lira matutina

LIRA MATUTINA

Os amanheceres envolveram-me na ternura

de um alvíssimo algodão

e viajei...

Viagem plena, suave, mansa,

nas painas do arrebol horizontino.

Mas o sonho fugiu na morna noite

e eu voltei.

Outra manhã... De novo a solidão azul

bordada de nuvens brancas,

e ali, só, recatadamente só,

– em meio às minhas valerianas –

uma única rosa vermelha

sorrindo para a canção

do velho e rouco cata-vento.

(........)

Dá-me, ó solidão, deste bom Porto!

Dá-me um copo deste rubro lusitano!

Bálsamo tinto de tantas horas mortas...

De tantas estrelas que se apagaram

ou se esconderam no plasma da saudade.

...E tu, ó lua em desencanto, por que fugistes de mim,

despidas de seus lençóis

nas brumas da madrugada?

(........)

De novo, um novo dia.

De novo a solidão azul.

(E este céu bordado...)

Sidnei Garcia Vilches (06/06/2015)

Agradeço de coração a interação do poeta Francisco Cavalcante com o texto transcrito abaixo:

"Nessas horas mansas de auroras seguindo seu prelúdio,

Rotina de cata-ventos coloridos a voar, parados...

A tanger as sombras cresce a luz,

nos imponentes horizontes das madrugadas.

Montando no silêncio seu anseio de pássaros e de vento,

tremulando nas folhas.

Na pulsação apressada e cotidiana da manhã azul tenaz."