sábado
caminhando para o final da tarde
de uma primavera já querendo ser verão
a luz de novembro escuta o vento passeando pelas praias
rumores de um sol a cantar
canções de Zeca Baleiro
nas águas inquietas de um mar
estou em casa
sozinho
neste novembro que se move devagar
mando-te áudios e mensagens,
inocentes emojis,
pelo WhatsApp
o silêncio dormita
no WhatsApp que te espera quieto
se nem se quer respirar
o celular derramado na escrivaninha
ao meu lado
a tela negra me fazendo companhia
faz-se deserto onde a luz demora
o tempo parado
entorna melancolias
esperando a noite que demora a entrar pela sacada
lentamente a tarde arde sonolenta
entra a dizer-me um poema lancinante
que agora escrevo para que saibas o quanto te amo
um áudio que te mandei, há tempo, ainda não carregou
tu me dissestes outro dia que a tua internet é ruim
e quando chove
ou sopra este vento voraz e preguiçoso
incapaz de ouvir as minhas saudades
as coisas ficam assim, assim...
o outro áudio carregou,
porém tu, do outro lado, ainda não ouvistes
já não importa o que te digo?
as palavras perderam o sorriso?
ou será que esquecestes de mim?
enfim
é sábado
de uma primavera crescendo em nossos corpos
depois de um inverno rigoroso, chuvoso e chinfrim
agora
o sol lá fora
caindo sobre as águas inocentes e afogadas
no mar aonde navegam meus sentimentos
traz o moreno e o bronze das gentes das praias
faz promessas redivivas ao verão
um dia destes ainda te pego pela mão
e te levo para um mar senciente
onde a tarde recitando versos antigos
que inventei só para nós dois
onde a brisa inocente
gravando sal e areia em nossa pele
hão de colocar-me devagarinho dentro do teu coração
e, então, o silêncio do WhatsApp já nada dirá
já não guardará o respirar das palavras desatadas
que colho em jardins de poeira e neve para te dar
a tocar-te a pele molhada pelo sol
com o aroma do meu olhar dizendo amizade
quando puerilmente só te sabe dizer amor
o final de tarde dirá em alarido
sílaba a sílaba
o que os meus áudios, mensagens e emojis,
até agora, não conseguiram te dizer:
te amo!
e não sei se você não quer entender
ou faz de conta que quem disse amor foram as aves
que voam em direção ao sul dos teus cabelos
aves que por aqui voam carregando o anoitecer
que despe-se rindo por detrás da luz dourada
úmidos os lábios
onde teu nome entontece a tarde cor de vinho
e conta-me histórias fragrantes de encanto
os silêncios, escutando a noite, me roubam o sono
as madrugadas sempre trazem algum verso para ti
e, nestes momentos, o poema cresce irremissivelmente
inquieto como o amor que te tenho
e as palavras diáfanas com as quais te acaricio
atravessam a noite insonte da tela escura do celular
o WhatsApp calado
o sinal da internet não volta
o vento ainda queima-se a soprar
minhas lágrimas querem chorar
quando o rubro de todas as vogais e consoantes
caídas nas folhas onde cantam os pássaros
te disserem das carícias que guardei só pra você
e sentires o meu amor te tocar como um sol de seda
e os meus beijos aninharem-se no teu corpo
como os versos aninham-se nos poemas
o WhatsApp, então,
se calará de vez na minha voz antiga e insonte
calará o medo que regressa devagar
o medo de não te ter
sabendo que vou te amar pra sempre
nos meus sonhos pueris
e calará este vento eloqüente
que com langor
te chama de amiga
sem saber que para o sal da minha pele
tens um gosto de carícia
posto que tu és a minha browzita
teus olhos verdes tal qual a folha de uma flor
me roubam o sono
olham dentro das minhas madrugada insones
acordam palavras
que te digo com ardor
sem saberes que na minha poesia
tu já és o meu grande amor