MERDA
Reflito sobre nada
Em um túmulo de pedra.
Meu rosto, este velho,
Gato escaldado, cansado de chão,
Coração à meio-pau,
Migalhas espalhadas
Mostram o caminho
De um menino perdido
Que um dia fui.
Hoje, um retrato colorido,
Tecnologia moderna,
Ângulo perfeito para um corpo desfeito.
Nunca pedi mais do que pude ter,
Não sonhei além de estar vivo.
Todos tinham muita pressa,
Queriam crescer,
Pobres coitados...
O universo é uma merda,
Poesia é uma merda,
Palavras que alguns leem
E somente um entende.
Lances em que emergir
É sobreviver,
Respirar é quase ser
Aquele que está ao lado
De quem parou de respirar.
Quem quer ser perfeito
Se os defeitos trazem mais risos?
Paredes, sempre vão haver paredes,
Você estará separado,
Ambientes estranhos, gente estranha,
Erguem as taças para comemorar,
Nem eles mesmos sabem o que.
Fingem ouvir o que os mortos desejam,
Falam sobre suas memórias,
Histórias que não servem de nada para você.
Eles escutam músicas que você não entende,
Idiomas que você não entende,
Sonhos que você não entende,
Coisas que fazem você se sentir mais só.
Assim as portas vão se fechando
E milhares de túneis apagam as luzes,
A escuridão e o silêncio.
Era só isso que você precisava
Para partir em paz.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 18/11/2018