Caminhando
a grandeza de Dona Iraci impressiona,
mesmo após o seu descanso carnal
sem um único gesto de lamentação,
fez com que seus filhos entendessem
a mais breve e pontual recomendação de sua história.
recado esse, que ganhou voz e corpo,
nas palavras duras e oportunas
de um padre que parecia nos conhecer
um a um, independente de nossas crenças, descrenças ou credo.
entristecidos, cabisbaixos e abatidos,
demos as mãos uns aos outros
como era o seu desejo maior.
sua expressão, intrépida e ousada,
nos fez ver que ainda não havia
terminado sua missão neste torpe quinhão,
sua presença física empulhava total respeito.
com certeza nunca aceitou, de sã consciência,
a pecha de ser apenas mais uma na multidão.
seu poderio ainda era infinitamente maior
do que o seu porte físico aparentava nos seus últimos dias.
agora, o tempo nos espera afoito,
sem hora marcada ou horário de verão,
isto não pode nos trazer medo ou fadiga,
precisamos marchar unidos, entrelaçados,
como uma corrente espessa e forte.
neste momento, creio que devemos ouvir música,
ou, quem sabe, formarmos um coro uníssono, em dó maior
para que não percamos o passo e nem o compasso
na caminhada pelos labirintos que ora nos afrontam.
até ontem eu achava que éramos um bando de loucos
e assim, nos entreolhávamos com severas restrições.
hoje, órfãos que somos, de pai e mãe
devemos nos ver como irmãos siameses
antes que se faça noite
e o medo do escuro nos arremesse
contra as paredes das catedrais.
as rosas brancas murcharam,
sucumbiram ante os escombros
porque parte de nós é morte,
mas os dias... se não me engano, são de Vida!