Caminhando

a grandeza de Dona Iraci impressiona,

mesmo após o seu descanso carnal

sem um único gesto de lamentação,

fez com que seus filhos entendessem

a mais breve e pontual recomendação de sua história.

recado esse, que ganhou voz e corpo,

nas palavras duras e oportunas

de um padre que parecia nos conhecer

um a um, independente de nossas crenças, descrenças ou credo.

entristecidos, cabisbaixos e abatidos,

demos as mãos uns aos outros

como era o seu desejo maior.

sua expressão, intrépida e ousada,

nos fez ver que ainda não havia

terminado sua missão neste torpe quinhão,

sua presença física empulhava total respeito.

com certeza nunca aceitou, de sã consciência,

a pecha de ser apenas mais uma na multidão.

seu poderio ainda era infinitamente maior

do que o seu porte físico aparentava nos seus últimos dias.

agora, o tempo nos espera afoito,

sem hora marcada ou horário de verão,

isto não pode nos trazer medo ou fadiga,

precisamos marchar unidos, entrelaçados,

como uma corrente espessa e forte.

neste momento, creio que devemos ouvir música,

ou, quem sabe, formarmos um coro uníssono, em dó maior

para que não percamos o passo e nem o compasso

na caminhada pelos labirintos que ora nos afrontam.

até ontem eu achava que éramos um bando de loucos

e assim, nos entreolhávamos com severas restrições.

hoje, órfãos que somos, de pai e mãe

devemos nos ver como irmãos siameses

antes que se faça noite

e o medo do escuro nos arremesse

contra as paredes das catedrais.

as rosas brancas murcharam,

sucumbiram ante os escombros

porque parte de nós é morte,

mas os dias... se não me engano, são de Vida!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 14/11/2018
Reeditado em 09/11/2022
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