Dois mil e dezoito
Ai que medo eu tenho de te perder
de que tuas mãos sagradas
se escondam das minhas
quando eu for buscá-las.
Ai que medo desse céu de mercúrio
desse cigarro já se acabando
e que poderá ser o último.
Justo eu que não conto com grandes meios
nem salvadoras rimas
nem nunca tive a promessa
de um apoteótico fim noutro seio
ai que medo.
E a julgar pelos suspiros que tens dado
pelos olhares entardecidos
que tens em vão tentado ocultar
a julgar por tudo isso
sagrada
já não és tão minha como costumavas...
Tu
que também eu te fiz nascer
do meu sangue nos porões.